O peso do que dizem sobre nós
É muito comum que as pessoas cheguem à terapia munidas de palavras dos outros sobre si: o que diz a família, os feedbacks no trabalho, do que reclamava o ex-namorado, o recente diagnóstico, etc. E são muitas as vezes em que esses discursos estão entranhados na nossa pele e misturados à nossa identidade: "fulano é teimoso como o pai", "vai ser advogada, como todos na família", "impossível seguir nessa carreira sendo tão ansiosa". Frequentemente, as palavras que tomamos emprestadas dos outros são a única maneira que encontramos para começar a falar sobre nós mesmos, e o processo terapêutico pode partir daí.
Somos afetados profundamente pelas nossas relações, especialmente as primeiras. Afetados pelas palavras ditas a nós ou sobre nós, assim como pelos olhares que recebemos ou deixamos de receber - os olhares que buscamos como o espelho a partir do qual podemos descobrir a nós mesmos. Se esse espelho, ao invés de refletir a nossa imagem, reflete repetidamente as necessidades e conflitos de quem nos olha, podem haver distúrbios na percepção de quem somos.
A experiência de autoconhecimento, por meio da psicoterapia, caminhará no sentido de trazer mais clareza sobre o que disseram sobre nós, o que ouvimos do que disseram, e como essas palavras, expectativas e projeções afetaram a maneira como nos percebemos. Mas acima de tudo, para além de romper com esses embaraços, a psicoterapia propõe a construção do que é possível genuinamente dizer sobre si. Como podemos retomar o controle dessa narrativa e inaugurar uma vida mais autêntica?
A psicoterapia permite mais que meramente revirar as caixas das coisas acumuladas nas relações do paciente com pessoas de seu passado. Algo novo emerge do processo terapêutico, da relação entre terapeuta e paciente. Em muitos casos a terapia é, para o paciente, o primeiro espaço onde é possível descansar do que os outros esperam que ele seja, e retomar a trilha da descoberta de si mesmo.