A primeira sessão
Aguardo cada paciente que vem para a primeira sessão com um discreto frio na barriga. Não há um script rígido, algumas coisas acho importante perguntar e algumas regras são imprescindíveis informar. De resto, minha preocupação é que o paciente saia da nossa primeira sessão sentindo que foi ouvido. Verdadeiramente ouvido.
Em alguns momentos do tratamento haverá embaraços, e é preciso que ambos, analista e analisando, psicóloga e paciente, sejam capazes de suportar um certo grau de ruído - como os ruídos de um rádio que tentamos sintonizar. A escuta se afina com os encontros, o paciente repete, reitera, me corrige, silencia: o tecido de sua história vai se estendendo pelo consultório num lento desdobrar.
É preciso então ir ouvindo para além do que é dito, ouvir o que se insinua, o que se repete, o que retorna do inconsciente. Refletir sobre teoria, técnica e manejo. Recordar, repetir e elaborar também as leituras e recursos que sustentam a nossa prática e cuidado com o outro. Não negligenciar a formação e constante atualização, que fazem desse específico encontro humano, dessa escuta especializada, tão potente e transformadora.
Percebo, no modo como desenvolvo meu trabalho, a importância da presença real e da disposição sincera para o encontro. Gosto das palavras de Winnicott: "Ao praticar psicanálise tenho o propósito de: me manter vivo; me manter bem; me manter desperto. Objetivo ser eu mesmo e me portar bem" (1962). A psicanálise nos ensina desde seu nascimento que a clínica é soberana, a experiência clínica e seus atravessamentos são a fonte legítima desse saber. É preciso então que haja uma costura entre o mergulho teórico e a disposição para ouvir e estar presente, e este alinhavo não está dado: é um exercício diário, vivo!
Recebo com alegria quando um paciente me interrompe e corrige: "Não, Fernanda. Você não tá entendendo, vou te explicar..." Claro que a correção pode ter vindo de variados lugares, haverá tempo para pensar e interpretar cada caso. Eu gosto particularmente quando a correção dá a pista de um sujeito que tomou seu lugar, e que me chama de volta ao nosso acordo fundamental: aqui é o lugar onde eu sou ouvido. Verdadeiramente ouvido. Por uma pessoa presente.