O descanso e a psicoterapia

13/01/2024

Não raro, uma pessoa preocupada com a queda de sua produtividade chega a terapia. Ela talvez traga uma respiração ofegante, um coração acelerado, uma sensação de sufocamento e um tom de urgência na voz. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que revela não conseguir fazer muita coisa, também demonstra não conseguir parar de correr. 

O fato desse relato ser tão comum (talvez você leitor, tenha se identificado um pouco com ele) aponta para fatores culturais, históricos e sociais. Estamos enredados nos imperativos de nossa época, que dizem: corra, se apresse, produza, não perca tempo! E talvez nos faltem não apenas informações sobre como o nosso meio impacta nas nossas emoções, mas ferramentas para construir outros caminhos possíveis, outros ritmos.
Nesse sentido, o psicólogo clínico não vai ignorar a importância e os significados que o trabalho e a produtividade têm para a pessoa que chega ao consultório, mas vai - em defesa da saúde de seu paciente - pensar para além disso. Pensar a importância do descanso, inclusive como parte do processo de trabalho e da criatividade.
Num processo terapêutico há valor no desvendar, na interpretação. Mas penso que também há uma riqueza no que se pode experienciar no vínculo. A direção do tratamento pode ser, inicialmente, possibilitar a experiência de estados mais tranquilos. Diante da respiração ofegante, do coração acelerado, da sensação de sufocamento, do paciente que (por diversos motivos) não pode parar de correr, a minha preocupação é que a minha escuta ofereça descanso. Ofereça tempo. Lugar.
Se tudo corre bem, podemos integrar o descanso como parte da construção da vida que se deseja viver. Ser, antes de fazer - como propunha Winnicott. Ser, para que o fazer ganhe sentido.
Texto escrito por:
Fernanda Nascimento
Psicóloga Clínica
CRP: 01/20090
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